Gestão de riscos e o mercado futuro no Agronegócio

Maio, 2025

O agronegócio é um setor altamente suscetível a oscilações de preços, influenciadas por fatores como clima, demanda global, variação cambial e políticas governamentais. Para reduzir esses riscos, produtores e empresas do setor utilizam o mercado futuro, um mecanismo financeiro que permite a negociação antecipada de produtos agrícolas, garantindo previsibilidade e segurança na comercialização.


Em suma, o produtor pode fixar um preço para sua produção agrícola antes da colheita, reduzindo o impacto das variações do mercado, enquanto as empresas compram esses contratos para garantir um preço estável na aquisição da matéria prima. “O objetivo do mercado futuro não é receber ou vender os produtos que os contratos negociados representam – milho, por exemplo – mas lucrar com a variação de preços desses produtos.” (CNA, 2017).


As negociações ocorrem em bolsas de valores, como a B3 (Bolsa de Valores do Brasil), onde os contratos de commodities agrícolas são padronizados. O contrato futuro inclui o ativo negociado (soja, milho, boi gordo, café, entre outros), uma quantidade padronizada do ativo, preço e prazo de vencimento (o comprador e o vendedor acordam um preço para liquidação em uma data futura). Segundo Marques (2006):

“Esses mercados funcionam como garantia para o produtor rural e para a indústria processadora, em operações de hedge de preço – do inglês to hedge, que significa cerca, proteção; nessas negociações, os envolvidos procuram travar os preços de venda ou compra de mercadoria em operações inversas às realizadas nos mercados físicos, de forma que eventuais perdas em um mercado sejam compensadas com ganhos em outro."

Sendo assim, produtores rurais utilizam o mercado futuro como uma ferramenta de proteção de preços (hedge). Enquanto indústrias e cooperativas garantem a compra de insumos a preços previsíveis, e investidores e especuladores buscam lucros com a variação dos preços das commodities, elevando a rentabilidade de sua carteira de investimentos. Ferreira et al. (2019) explica:

“Os mercados futuros apresentam grande diversidade de operações para o agronegócio, desde aqueles que visam apenas à proteção de margens hedge quanto outras voltadas para o mercado especulativo, como por exemplo, as operações de arbitragem onde o ganho é determinado pelo spread entre dois mercados distintos.”

O hedge é a principal estratégia usada no mercado futuro para reduzir os riscos da oscilação dos preços. Dentre os tipos de hedge, há o hedge de venda (o produtor vende contratos futuros para garantir um preço mínimo pela sua safra) e o hedge de compra (indústrias e pecuaristas compram contratos futuros para evitar pagar mais caro no futuro).

 

Como exemplo de hedge de venda, imagine um produtor de soja que teme que os preços caiam na época da colheita. Em janeiro, ele decide vender contratos futuros de soja na B3 por R$ 100,00/saca, assegurando esse valor para parte da sua produção. Em maio, no momento da venda, o preço físico de mercado cai para R$ 90,00/saca. Embora ele receba menos na venda física, ganha R$10,00/saca na liquidação do contrato futuro, mantendo sua margem planejada inicialmente. Caso o preço tivesse subido para R$ 110,00/saca ele não participaria desse ganho adicional, mas teria a segurança de garantir o valor mínimo de R$ 100/saca.


Logo, os principais benefícios do mercado futuro para o agronegócio são a redução de riscos (protege produtores e indústrias contra oscilações bruscas), maior segurança financeira (permite um planejamento financeiro mais estável), acesso a mercados globais (facilita a comercialização e precificação em nível internacional) e previsibilidade na produção (reduz as incertezas e melhora a gestão da propriedade rural).


De acordo com Marques (2006), para que funcionem efetivamente como instrumentos de garantia de preços, é necessário que haja liquidez nesses mercados, o que implica haver volume considerável de contratos negociados diariamente (acima de mil contratos por dia). Dentre as commodities com maior liquidez na B3, destacam-se a soja, milho, boi gordo e o café arábica.


Ademais, conforme Ferreira et al. (2019), no início do contrato até o vencimento, sempre que o preço futuro subir acima do preço acordado em contrato, o vendedor deverá antecipar essa diferença ao comprador, assim como se o preço futuro cair abaixo do preço contratado, o comprador terá de antecipar ao vendedor essa diferença, sendo chamados de ajustes diários.


Por fim, constata-se que o mercado futuro é uma ferramenta estratégica essencial para o agronegócio moderno, permitindo que produtores enfrentem incertezas climáticas, geopolíticas e de mercado com mais segurança, previsibilidade e competitividade. A partir de uma boa estratégia de hedge, é possível garantir margens de lucro mais estáveis e evitar perdas inesperadas. Cabe ressaltar que, para começar a operar no mercado futuro, é importante buscar capacitação, acompanhar as tendências de preços e contar com assessoria de especialistas no setor.
 

Referências:

B3. Commodities. s.d. Disponível em: <https://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/commodities>; 

 

CNA. A agricultura e o mercado futuro. 2017. Disponível em: <https://www.cnabrasil.org.br/publicacoes/a-agricultura-e-o-mercado-futuro>;

 

FERREIRA et al. Desenvolvimento dos Mercados Futuros no agronegócio nacional: cenários e tendências. 2019. Disponível em: <https://unisalesiano.com.br/aracatuba/wp-content/uploads/2019/08/Artigo-Desenvolvimento-dos-Mercados-Futuros-no-agroneg%C3%B3cio-nacional-cen%C3%A1rios-e-tend%C3%AAncias-Pronto.doc.pdf>; 

 

MARQUES, P. V.; FILHO, J. G. M. 2006. Mercado futuro possibilita administrar riscos de preços. Disponível em: <https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va05-agronegocio06.pdf>.