Adeca Agronegócios | Cepea - ESALQ/USP

O mercado brasileiro de boi gordo continua a beneficiar-se de uma forte demanda externa, mantendo os preços elevados, apesar de sinais de recuo no mercado interno. No primeiro semestre de 2025, as exportações de carne bovina geraram US$ 7,2 bilhões, um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2024. Isto se deve tanto pela elevação de 12,5% no volume embarcado quanto por um aumento de 12,7% no preço médio em dólar.

Dessa forma, este aumento nas exportações tem amparado o valor da carcaça bovina no mercado doméstico, mesmo diante de uma liquidez mais fraca nas negociações internas. No início de Julho, o preço da carcaça casada à vista na Grande São Paulo caiu 3,4%, para R$21,30/Kg, enquanto o indicador CEPEA/ESALQ do boi gordo em São Paulo reduziu 3,7%, fixando-se em R$305,60.

Apesar deste cenário otimista, a Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO, 2025) estima que uma nova tarifa de 50% dos Estados Unidos – segundo principal destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China – sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de Agosto, pode resultar em perdas de US$ 1,3 bilhão para o setor em 2025. Desse modo, a entidade reafirma a importância da diversificação de mercados, com destaque para Chile, México e Rússia, os quais apresentaram crescimentos expressivos em 2025.

Estas novas taxações tendem a reduzir a demanda dos importadores norte-americanos, pressionando preços e volumes das exportações. Embora o Brasil consiga redirecionar parte da produção para outros mercados, os frigoríficos exportadores enfrentam o risco de margens menores e renegociação de contratos já firmados.

A colheita da safra 2024/25 de algodão enfrentou atrasos significativos devido às baixas temperaturas e chuvas atípicas em várias regiões brasileiras. Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2025), até o dia 05 de julho, 7,3% da área brasileira havia sido colhida, avançando para 16,7% até o dia 21 de julho. O indicador CEPEA/ESALQ para o algodão, com pagamento em 8 dias, caiu para R$ 4,1127 /lp nos primeiros dias do mês – o menor valor nominal desde novembro de 2024.

Tais condições climáticas adversas não apenas retardam o processo, mas também colocam em risco a qualidade da fibra, uma vez que a umidade excessiva pode prejudicar aspectos como resistência e aspecto da pluma. Logo, vendedores buscam liquidar estoques remanescentes da safra anterior e cumprir contratos futuros, enquanto compradores relutam em fechar negócios, com divergências sobre preço e qualidade do produto.

Ainda segundo a CONAB (2025), a estimativa é de produção recorde para a safra atual da cultura, com uma área plantada estimada de 2,1 milhões de hectares – crescimento de 6,9% sobre a safra anterior – e produção esperada de 3,9 milhões de toneladas – volume 5,1% maior comparado à safra 2023/24.

Tais resultados foram impulsionados, principalmente, pela recuperação do café arábica, que voltou a ganhar espaço nos mercados internacionais, além de uma crescente demanda por cafés especiais e solúveis. Ademais, os principais países compradores continuam sendo EUA, Alemanha, Itália e Japão, mas o Brasil tem conquistado espaço em mercados emergentes como China, Rússia e Turquia.

Mesmo com uma leve retração no volume exportado em Abril, o acumulado da safra permanece sólido, e as expectativas para os próximos meses indicam manutenção da competitividade do produto brasileiro. De acordo com o presidente da Cecafé, Márcio Ferreira, as cotações devem seguir favoráveis e remuneradoras aos produtores, em que o Brasil caminha para um aumento de produção a partir de 2026, permitindo que país mantenha ou amplie market share a preços mais justos a todos os players e, consequentemente, mais competitivos para a indústria brasileira.

Durante a 5ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert), foi apresentada a informação de que a Petrobras projeta atender até 35% da demanda brasileira por fertilizantes à base de ureia até 2028. Tal projeção se deve à retomada dos investimentos em usinas de fertilizantes nitrogenados localizadas na Bahia, Espírito Santo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Este movimento está alinhado ao plano de negócios da Petrobras para 2025-29, com previsão de investir cerca de 900 milhões no setor de fertilizantes.

Conforme a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE, 2020), o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes, sendo o quarto país do mundo, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos. Logo, a estratégia da Petrobras visa reduzir a dependência destas importações – cerca de 85% de toda a ureia utilizada pela agricultura brasileira é importada – e aumentar a produção nacional de ureia e amônia.

A imposição de taxas de 50% pelos Estados Unidos, principal importador do café brasileiro, traz incertezas para o setor, especialmente para o segmento de café solúvel. Como resposta, exportadores e produtores começam a redirecionar suas estratégias para mercados asiáticos, com destaque para China e Filipinas, os quais apresentam projeções de forte crescimento no consumo de café nos próximos anos.

Além do impacto direto nas exportações para os EUA, o cenário é agravado pelo avanço da colheita no Brasil, que pressiona a oferta e aumenta os estoques de arábica e robusta, intensificando a volatilidade dos preços no mercado interno. Segundo pesquisadores do Cepea, o robusta – utilizado principalmente para café solúvel, justamente o mais afetado pelas tarifas – já teve sua colheita praticamente concluída, fato que amplia o desafio comercial diante da retração no mercado norte-americano.

O mês de julho iniciou com avanços para o comércio exterior brasileiro, com a conclusão do acordo de livre comércio entre Mercosul e EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein). Esta parceria deve facilitar exportações brasileiras de produtos como café, soja e carnes, além de estreitar laços comerciais e atrair investimentos europeus. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), o acordo pode, ainda, acelerar o fechamento definitivo do tratado com a União Europeia – em que o principal entrave é a preocupação de países, como França e Polônia, quanto às cláusulas ambientais e exigências sanitárias.

Ambas as parcerias reforçam a posição do Brasil como relevante fornecedor de alimentos, matérias-primas e produtos agroindustriais em mercados de alto poder aquisitivo e maiores exigências por sustentabilidade e rastreabilidade, estimulando a agregação de valor. Além disso, a redução de tarifas e burocracias torna os produtos brasileiros mais competitivos na Europa, fato de grande relevância frente a restrições tarifárias impostas por outros mercados, como os Estados Unidos.

Fonte:

BRASIL. Acordo entre Mercosul e associação europeia amplia oportunidades de exportações. 2025. Disponível em: <https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202507/acordo-mercosul-efta-amplia-oportunidades-de-exportacao-de-produtos-brasileiros-para-a-europa>;

CNN. Acordo Mercosul-Efta pode acelerar negociações com UE, diz CNA. 2025. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/acordo-mercosul-efta-pode-acelerar-negociacoes-com-ue-diz-cna>;

CNN. Mercosul fecha novo acordo de livre comércio com europeus. 2025. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/luciana-taddeo/economia/macroeconomia/mercosul-fecha-novo-acordo-de-livre-comercio-com-europeus>.

No dia 1º de julho foi lançado o Plano Safra 2025/26, com um montante recorde de R$ 516,2 bilhões destinados à agricultura empresarial, um aumento de R$ 8 bilhões em relação à safra anterior. Desse total, R$ 414,7 bilhões serão voltados ao custeio e comercialização e R$ 101,5 bilhões para investimentos em infraestrutura. O plano também inclui R$ 89 bilhões voltados à agricultura familiar, especialmente no Pronaf, com juros reduzidos para promover inclusão e estímulo à produção de alimentos básicos.

Dentre as medidas para ampliar a segurança e sustentabilidade no campo destacam-se a inclusão do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para todos os financiamentos agrícolas acima de R$ 200 mil – exceto casos em que o zoneamento não esteja disponível –, além de incentivos – como crédito adicional e redução de juros – para produtores que adotarem práticas sustentáveis.

Ademais, a linha do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) agora atenderá produtores com renda de até R$ 3,5 milhões anuais, ampliando o acesso ao crédito com condições diferenciadas. Dessa forma, o Plano Safra continua sendo um importante reforço estratégico para o agronegócio brasileiro, com ênfase em crédito facilitado, inovação, inclusão social e sustentabilidade, contribuindo para a consolidação do Brasil como o “celeiro do mundo”.

ADECA NEWS - JULHO/2025

Exportações brasileiras de carne bovina seguem em alta – 10/07/2025

Frio e chuvas atrasam colheita da safra 2024/25 de algodão – 09/07/2025

Petrobras retoma investimentos na produção de fertilizantes – 23/07/2025

Tarifação americana redesenha o cenário do café brasileiro – 23/07/2025

Mercosul avança em novos acordos com a Europa – 01/07/2025

Plano Safra 2025/26: R$ 516,2 bilhões para impulsionar o agronegócio – 01/07/2025

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